
.....................................................................................Foto: Loester..............................
Não sei se a idéia é original. Na verdade, acho que não. Quem já leu muito e se considera “experimentado” provavelmente não encontrará aqui nada de importante. Esses, sugiro, parem de ler e poupem tempo. Caso queiram ler algo realmente original, procurem textos de alguem que nunca se contaminou pelo silêncio do mundo. Porque o que eu quero é emprestar voz a um pensamento que me é importante.
De fato, uma experiência desse fim de semana, em Brasília pra variar, me fez pensar. No quanto somos agressivos. Como violentamos a liberdade e o direito do outro em função do nosso bel prazer. Não que eu deseje que isso nunca mais acontecesse, que o tudo fosse calmaria. Seria muita utopia para acreditar. Mas eu desejo que tais assassínios não fossem legitimados. Em que o descabido vil fosse punido.
Sem mais suspenses: o que eu vi foi um homem, doente mental, ser atirado cruelmente de um transporte em movimento. Ele simplesmente não conseguia se explicar e, ao que parece, queria embarcar com sua habilitação de deficiente, concedida pelo Ministério da Saúde. Ele foi hostilizado por feder, não conseguir organizar idéias coerentemente e porque Brasília é curiosamente pouco sensível à subjetividade do outro.
Ver tamanha injustiça e ter ficar covardemente inerte. O que poderia eu fazer, pular também? Hostilizar os opressores? Por ai. Tentei não me carregar da cólera que carreguava no dia anterior, que já havia tendido à insignificância. Pensei que seria inteiramente utópico desejar que nunca mais ninguém voltasse a violentar outra pessoa. Mas exigir que pequenos crimes deixem de ser legitimados, seria uma utopia bem menor.
A idéia é que todas as ideologias, convencidas de que devem fatalmente conduzir ao equilíbrio da sociedade, são utopias muito maiores. Vejo que o mundo progrediu no sentido de se desumanizar, consentindo cada vez mais numa vida habitada pela solidão, pelo silêncio e pelo egoísmo. Então... Bem óbvio isso. Mas o que me espanta é como a “luta” de muitos acaba por se identificar com a falta de trégua, onde tudo é permitido.
Onde a maldade vil é justificada pelo desejo do absoluto. Que quer compreender o mundo e, mais, que o mundo compreenda. Esse é o mundo onde todos somos, em algum momento, carrascos ou vítimas. E nosso ressentimento tente a divinizar tudo aquilo que nos oprime, o que é puro desperdício de energia, e é o que mais acontece nas ruas. Gastar tempo em pequenos pormenores carcomidos que não levam a nada.
O que custava deixar o senhor ir até o hospital em paz? Mais aterrador é pensar que que muitos fazem justamente isso. Gastam seus dias querendo reduzir o mundo a si mesmos. Como se tudo fosse um grande umbigo giratório. Os olhos da garota que me pediu dinheiro na rodoviária, duas semanas atrás. Eles também giravam. Não saem da minha cabeça. Isso foi o que me ocorreu, voltando de Brasília, em meio à palavras cruzadas.
Percebo que Sísifo, apesar de seu esforço, não tinha ninguém à sua espera na montanha. Apenas por isso o momento do rolar da pedra é, para ele, o momento mágico. Seu esforço não tem outra recompensa. Realizo que há outros momentos muito mais mágicos nessa vida. Depois de muito vagar, aprendi que a felicidade, além de ser um acordo com a existência, traduz-se melhor na unidade, que nunca encontramos em nós mesmos.
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