Sabe, a honestidade de Sartre me é atraente, apesar das suas conclusões sobre a ausência de um sentido para a vida e sobre a impossibilidade do amor, de que “a existência precede a essência”. Isso me preocupa. É muito difícil viver com a idéia de que nada me acompanha e nada me precede. E penso se poderia viver num mundo de heróis. Se eu poderia viver num mundo sem Deus.
Deus seria a escolha perfeita, mas uma pessoa perfeita é impossível. O corolário básico disso em Sartre é que, se Deus é impossível e é amor, então o amor é impossível. O que mais choca nele é a negação de que possa haver um amor genuíno e altruísta. Simplesmente não pode haver o “nós”. E o pior é que eu vejo isso todo o tempo. Eu vejo pessoas vivendo sem um mínimo de genuinidade e altruísmo, e me espanto me perguntando se Sartre estaria certo. O que implicaria que eu também sou assim. Que eu, assim, como todos, estamos sós.
Em Sartre, a essência ou natureza não viria de um Deus Criador: seria fruto exclusivo das suas próprias escolhas livres. Eis então me vem à esperança. Acho falacioso o argumento de que “o homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo”. Quem dera. Quem me dera poder controlar com primazia o que sinto. Quem me dera realmente pudesse fazer alguma coisa de mim, sem que isso dependesse de mais alguém. Isso me faria forte. Mas sou fraco, frágil e esperançoso.
Eu posso ser errante. Eu posso viver num mundo sem heróis. Ainda não tenho certeza se consigo viver em um mundo sem Deus. Mas posso conviver com o incerto, isso eu sei. Na verdade, eu aceito a dúvida, que é minha companheira nos momentos mais fecundos. Consigo aceitar as conseqüências de meus próprios atos, mesmo que não seja livre. Posso me perder. Posso viver triste e moribundo, se for o caso. O que eu não posso é aceitar viver num mundo sem amor. Eu preciso de algo que me salve de mim.
Esse texto é dedicado para o(s) leitor(es) assíduo(s). Os parenteses estão aí só para o caso de haver mais de um.
2 comentários:
Gente, esse povo aí precisa arrumar algum trabalho para você, hein?
Mandei e-mail :)
Quem não é fraco e frágil? Somos humanos. A diferença está em ter ou não esperança nos outros e principalmente em si. Sim, aprendemos a viver em mundos sem heróis ou milagres, mas nunca aprenderemos a viver num mundo sem um deus ou sem, pelo menos, a esperança de que as coisas possam dar certo (mesmo que elas não dependam exclusivamente de nós). O absurdo é só uma forma de encontrar uma explicação que buscamos na ausência de sentido. Ele não me parece tão mal. Nem tudo tem um sentido, mas sempre há uma intenção.
comentário pertinente: Com certeza há mais que um leitor assíduo. =P
Bjos,
Ana.
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