
Não gostava de datas representativas, do convencionado. Em verdade, achava que não fazia diferença alguma, porque sempre achou que não era a data o importante.
Mas tinha escolhido aquele momento específico para contemplar algo de raro: o encontro precioso do que não se pode classificar com o que não se pode avaliar.
Não acreditava mais que pudesse ser possuidor de palavras, de termos suficientes para definir com razão e consciência tudo o que, na verdade das entrelinhas, já falava por si.
Lembrou-se de que já tinha visto tantos dizerem absurdos ou ligarem aquilo a fisiologias. Falarem com algum conhecimento de causa do que certamente desconheciam.
E há muito ia que não se dava por sonhar. Em sua teoria obsessiva, considerava que sonhar equivalia a destruir qualquer chance que o conteúdo se tornasse real.
Achava que nada se materializa igual ao que se sonha. E não queria ter idéia do que o mundo pudesse pensar a seu respeito, do que francamente já não importava.
Assim, tinha motivos evidentes para rir de si. Ria com gosto e sabor. Ria em cores que não se escondem. Gostava de se encontrar ao descobrir o caminho percorrido.
Por que já tinha aprendido a colecionar sorrisos e isso havia aprendido bem. Mas ainda guardava-os no fundo da alma e não sabia, ao certo, o que significavam.
Foi quando, de repente, conheceu a interprete de sorrisos. E não foi apenas por pura coincidência. Acontece que já havia sorrido para ela, mesmo sem de todo o saber.
Escutou com cuidado, até descobrir todas as partes da música, incluindo o silêncio. E descobriu que o som não findava. Havia se transformado em algo mais que eterno.
Sentiu dois verbos intransitivos se completarem no fim da frase. Sentiu-se parte da imensa e grandiosa energia que circulava nos bastidores de tudo o que era bom.
Viu suas defesas entre o pouco que tinha e o tanto que queria ruírem na hora em que veio a compreensão. Eis que, surpreso, identificou seu sangue perdido em outras veias.
Respirou fundo e fechou os olhos, transpirou. E viu que, ao fim, coragem servia era para isso mesmo. Para fechar os olhos, prender a respiração, pular de cabeça no precipício.
Para se achar no direito de ousar. Para não precisar de sonhos. Para não depender de heróis. Para dobrar o tempo com as próprias mãos e aprender e reaprender a sorrir.
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