terça-feira, junho 13, 2006

SobrE HojE (ou sobre qualquer outro dia)


Não gostava de datas representativas, do convencionado. Em verdade, achava que não fazia diferença alguma, porque sempre achou que não era a data o importante.

Mas tinha escolhido aquele momento específico para contemplar algo de raro: o encontro precioso do que não se pode classificar com o que não se pode avaliar.

Não acreditava mais que pudesse ser possuidor de palavras, de termos suficientes para definir com razão e consciência tudo o que, na verdade das entrelinhas, já falava por si.

Lembrou-se de que já tinha visto tantos dizerem absurdos ou ligarem aquilo a fisiologias. Falarem com algum conhecimento de causa do que certamente desconheciam.

E há muito ia que não se dava por sonhar. Em sua teoria obsessiva, considerava que sonhar equivalia a destruir qualquer chance que o conteúdo se tornasse real.

Achava que nada se materializa igual ao que se sonha. E não queria ter idéia do que o mundo pudesse pensar a seu respeito, do que francamente já não importava.

Assim, tinha motivos evidentes para rir de si. Ria com gosto e sabor. Ria em cores que não se escondem. Gostava de se encontrar ao descobrir o caminho percorrido.

Por que já tinha aprendido a colecionar sorrisos e isso havia aprendido bem. Mas ainda guardava-os no fundo da alma e não sabia, ao certo, o que significavam.

Foi quando, de repente, conheceu a interprete de sorrisos. E não foi apenas por pura coincidência. Acontece que já havia sorrido para ela, mesmo sem de todo o saber.

Escutou com cuidado, até descobrir todas as partes da música, incluindo o silêncio. E descobriu que o som não findava. Havia se transformado em algo mais que eterno.

Sentiu dois verbos intransitivos se completarem no fim da frase. Sentiu-se parte da imensa e grandiosa energia que circulava nos bastidores de tudo o que era bom.

Viu suas defesas entre o pouco que tinha e o tanto que queria ruírem na hora em que veio a compreensão. Eis que, surpreso, identificou seu sangue perdido em outras veias.

Respirou fundo e fechou os olhos, transpirou. E viu que, ao fim, coragem servia era para isso mesmo. Para fechar os olhos, prender a respiração, pular de cabeça no precipício.

Para se achar no direito de ousar. Para não precisar de sonhos. Para não depender de heróis. Para dobrar o tempo com as próprias mãos e aprender e reaprender a sorrir.


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