sexta-feira, julho 14, 2006

Dois patinhos e uma lagoa

Eu não costumo ter contato visual com boa parte das coisas que me são essenciais na vida. O ar que respiro, circunda e oxigena, e é invisível. A água que eu bebo, não tem cor, não tem sabor, não tem cheiro. O tempo que tanto prezo, que o máximo que posso é vê-lo passar e, na maioria das vezes, não há tempo pra isso. A música que eu faço e ouço só tem cor e sabor depois que entra em meus ouvidos. E por algumas vezes e vezes a vida me pareceu desbotada e eu me prestei daltônico diante dela.

E correr muito me fez bem e muito me fez mal. E procurar me fez achar tudo de bom e muito do ruim também. Mas nada impede de guardar as lembranças de minhas desventuras em álbuns de recordações, e de levar a minha sorte comigo na sacola, pra onde for. E de me sentir feliz por estar vivo, me sentir assim até quando triste. Por ter sangue correndo nas veias, o invisível ar nos pulmões, e o invisível-indizível que aquece no coração. Ah, sim, esse invisível agora tem nome, tem cor e tem cheiro.

Nesses 22 anos, eu me reservo o direito de mudar quantas vezes foram necessárias pra continuar sendo quem sou. De sonhar acordado. De gritar na tempestade, e me paralisar com a relva da manhã. De nunca me arrepender de ter feito alguma coisa sem me arrepender de não ter feito algo antes. Guardo-me a proeza de ser único, sem ser melhor que ninguém. Reservo meus motivos. Reservo a mim também o direito a cultivar um sentimento sem nome. E de rir de mim mesmo ao pensar na minha vida.

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