“C’est la faute à Voltaire. C’est la faute á Rousseau”
Les Miserables, Victor Hugo
“Ama a teu próximo como a ti mesmo”. Esse mandamento canônico da religião católica é usado por Freud para discutir um ponto muito interessante da Teoria Psicanalítica. Ao nos deparamos com a grande dificuldade que há em amar todos os “próximos” de forma tão intensa como amamos a nós mesmos, vemos que também existe uma impossibilidade de fazê-lo, apontada por Freud
Tal mandamento implica também que cada ser humano deva amar inclusive os próprios inimigos. Outra possibilidade das mais improváveis, que só poderia ser entendida e conseguida pela crença absoluta, pela fé tomando o lugar da razão. Poderíamos pensar então na guerra e demais conflitos como resultados dessa incapacidade de amarmos uns aos outros, já que amar ao próximo como a si próprio seria uma forma de garantir a não agressão deste.
Entretanto, amar implica necessariamente em uma identificação com o objeto de amor, de forma tal que não pode ser alcançada em relação a todas as pessoas. Por isso mesmo, enganam-se os que desejam que a paz possa ser conseguida eliminando todas as manifestações de agressividade. Isso não seria possível. O fato é que, até a manutenção da paz não pode prescindir do uso da violência.
Portanto, equivocam-se igualmente os que imaginaram estar na propriedade privada o motivo pelo qual os homens travam guerras. Pensaríamos então que a agressividade é provocada pelo sistema capitalista em que estamos inseridos. Mas não é a agressividade anterior a esse modo de produção? O Capitalismo não cria a agressividade, apenas usufrui dela. Tão pouco é a propriedade a responsável péla sua existência. Devemos entender, pois, a agressividade como algo inerente ao ser humano, presente neste antes mesmo que a idéia de posse seja adquirida.
Vemos então que Freud não considerava o homem segundo uma proposta Rousseauniana. Ou seja, o homem não é um bom selvagem, bom em essência, e que apenas reage às agressões vindas do meio em que vive. Ele não é considerado gentil, tão pouco altruísta. É sim guiado por dois tipos básicos de pulsões: de vida e de morte. A existência deste último tipo de instinto confere ao homem agressividade e, quando dirigida a objetos, capacidade de destruição, inclusive da vida alheia. Assim o “selvagem” é para Freud o que seria aquele que é um “mal selvagem” para Rousseau. A agressão inerente à natureza humana faz com que quanto mais primitivos nos comportemos, mais violentos nos tornamos.
Mas o que fazer então para garantir a sobrevivência da espécie, se não pode eliminar a agressividade, se não há como evitar que destruamos a nós mesmos em algum momento? Talvez o grande trunfo da civilização seja o de promover a convivência, não pacífica, mas relativamente harmônica entre os homens. Isso é conseguido impondo aos mesmos limites para as manifestações dos instintos agressivos, da mesma forma que acontece também com as restrições ao uso da energia libidinosa.
Com tantos sacrifícios, é realmente difícil sentir-se bem
É possível então que o objetivo da civilização seja o progresso em direção a uma comunidade mundial, que ao menos proteja as pessoas contra a violência bruta. O que aglomera pessoas em nações muito provavelmente é eliminar os ressentimentos, e criar identificação entre oprimidos e opressores, para que esses possam conviver. Isso, no entanto, só surge devido a relações de alteridade em relações a outras culturas.
Se o homem aceita essas restrições em prol do convívio social, então podemos concluir que há um ganho muito grande nisso, ou haja uma forma de garantir que essa energia destrutiva seja liberada de alguma outra forma. Podemos ainda observar que, dentro dos grupos, que unem as pessoas baseados num sentimento amoroso, é muito fácil observar sentimentos hostis em relação a outros grupos.
2 comentários:
Caramba, alysson. Um texto muito abrangente, muito consciente, muito embasado e muito bem-feito. Poxa, salvei aqui no computador para reler com calma, há muitos pontos em concordância para racionacinar em cima... Convivência harmoniosa..pensei nisso..
Abraços!
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