sexta-feira, junho 10, 2005

Até o último cliente

Um beco escuro na Cidade de Goiás. É madrugada. Um turista desavisado pode passar pela rua que leva ao Mosteiro da Anunciação, sem se dar conta de uma pequena passagem localizada no quarteirão em frente à Praça Araguari. A luz da lua minguante cria na estreita viela um caminho sombrio que leva a uma das atrações mais pitorescas da Cidade de Goiás: O Morro do Macaco Molhado.

Ao caminharmos entre as casas que formam o escuro corredor que leva ao bar localizado no centro do quarteirão, fica é fácil descobrir porque o bar leva o mesmo nome de uma favela do Rio de Janeiro. Os visitantes da Cidade de Goiás que comparecem ao FICA (Festival de Cinema Ambiental da Cidade de Goiás), realizado este ano de 31 de maio a cinco de junho, dificilmente voltam pra casa desconhecendo a fama do local.

Quem vai pela primeira vez se pergunta qual o segredo do sucesso do Morro. O bar é pequeno, não tem mesas e cadeiras suficientes, e não se vê nenhum garçom circulando entre os fregueses. Não há seguranças em parte alguma do bar. Também não há cardápio. Embora a indicação na divulgação do VII FICA faça referência à venda de batatas fritas e caldos, o produto mais procurado é certamente a “cerveja super gelada”. A música sai de uma velha vitrola, com um “disc man” adaptado. Alguns CD’s tocam do início ao fim e são repetidos por toda a madrugada.

Mesmo assim, durante todo o FICA, o bar recebe uma quantidade enorme de pessoas, que chega a exceder a capacidade de atendimento. As noites são animadas e regadas com cerveja e muito forró. O ambiente é sempre animado, e a pista de dança fica abarrotada de pessoas.

O Morro não deixa seus clientes na mão quando o assunto é o termino das atividades. “Estamos abertos das seis horas da tarde até o último cliente”, diz Senhor Walter Carneiro, o “Seu Ninho”, como é conhecido o dono do bar.

Mesmo sem eventos como o FICA na cidade de Goiás, o Morro tem garantido a fidelidade por parte dos fregueses. Andréia Alves, estudante do curso de Direito e moradora da cidade diz que o bar sempre está lotado aos finais de semana. “O Morro tem um público de fiéis estudantes e boêmios, que sempre comparecem” ressalta.

O fotógrafo Nelson Santos, que vem todos os anos ao fica, diz que o Morro do Macaco Molhado “é uma oportunidade para as pessoas de fora (de Goiás) fazerem coisas que não estão acostumadas, como dançar forró, beber, e conhecer pessoas novas. Aqui é um ambiente em que me permito vir sem minha câmera e sem a patroa”. O músico Marcelo Sorá diz que o Morro é um lugar que se tornou símbolo da cultura de resistência na cidade de Goiás, “pela persistência em atender de um jeito simples e sem perder as suas origens”.

Por Alysson Bruno

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